quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Cannabis medicinal e diabetes: o que a ciência realmente sabe (e o que ainda não sabe)


 O uso do cannabis medicinal entre pacientes com diabetes cresce em todo o mundo, mas a ciência ainda busca respostas claras. Embora possa aliviar dores neuropáticas e melhorar o sono, não controla os níveis de glicose nem substitui o tratamento médico. Os especialistas pedem cautela e acompanhamento profissional.

Nos últimos anos, o cannabis medicinal passou a ser visto como uma alternativa natural para diversas doenças crônicas, incluindo a diabetes. No entanto, o entusiasmo público nem sempre acompanha a evidência científica. Estudos mostram benefícios pontuais, mas também riscos importantes, sobretudo quando o uso ocorre sem orientação médica. A verdade é que o potencial terapêutico existe —mas está longe de ser uma cura.

Regulação desigual e expectativas elevadas

Países como Uruguai e Itália já regulamentam o uso do cannabis medicinal, enquanto outros —como Espanha e México— ainda estruturam suas políticas. Na maioria dos casos, a prescrição é restrita a ambientes hospitalares e exige controle médico rigoroso.

Essa falta de padronização internacional dificulta a pesquisa e favorece a proliferação de produtos de qualidade duvidosa. Óleos e suplementos vendidos sem controle laboratorial prometem “regular o açúcar no sangue”, mas não há comprovação científica que sustente essas afirmações.

O que a ciência já confirmou

O cannabis contém dois principais compostos: THC, responsável pelos efeitos psicoativos, e CBD, com perfil mais seguro e sem ação psicotrópica. As proporções entre essas substâncias variam conforme o produto, o que dificulta a comparação entre estudos.

Pesquisas médicas apontam algumas conclusões claras:

Não reduz a glicose: nenhum medicamento à base de cannabis é aprovado para controlar o açúcar no sangue.

Pode aliviar dor neuropática: há evidências limitadas de melhora em casos de neuropatia diabética.

Efeito leve sobre o sono: o alívio da dor pode favorecer o descanso, mas o impacto geral é modesto.

Riscos para diabéticos tipo 1: o uso recreativo se associa a maior incidência de cetoacidose diabética, uma complicação grave.

Assim, o benefício potencial é restrito a sintomas específicos, e não à doença em si.

Questões ainda sem resposta

A ciência ainda não definiu quais são as doses seguras, a duração ideal do tratamento ou as combinações mais eficazes. O uso prolongado pode afetar o fígado, a memória, o humor e o sistema cardiovascular.

Além disso, tanto o THC quanto o CBD podem interagir com medicamentos comuns, alterando sua absorção. Por isso, o acompanhamento médico é essencial. Outro problema é a baixa qualidade de muitos produtos no mercado —alguns contêm contaminantes ou dosagens diferentes das declaradas.

Como o cannabis atua no corpo

O corpo humano possui um sistema endocanabinoide, responsável por regular dor, apetite, humor e inflamação. Os compostos do cannabis se ligam a esses mesmos receptores, podendo reduzir a dor ou a inflamação, mas também causar efeitos adversos, como sonolência, ansiedade e variações de apetite.

Encontrar a dose e a combinação certas é um desafio clínico —e uma das principais razões para evitar a automedicação.

O que a ciência e a prudência recomendam

O cannabis medicinal não substitui o tratamento tradicional da diabetes. Pode ajudar em sintomas isolados, mas sempre com prescrição, controle laboratorial e vigilância médica.

Pesquisadores exploram novas abordagens, como a farmacologia de redes, que analisa como diferentes compostos do cannabis interagem com múltiplos genes e proteínas ligados à doença. Embora promissora, essa linha ainda está em fase experimental.

Enquanto a evidência não amadurece, o conselho é simples: esperança com cautela, e nunca sem supervisão médica.



Fonte: Gizmodo

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