Pesquisadores
da USP de Ribeirão Preto (SP) estão na fase final do desenvolvimento de
uma versão sintética do canabidiol, substância derivada da maconha, que
promete ser mais eficaz contra doenças como epilepsia, além de mais
barata do que a versão atualmente aprovada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).
Desde janeiro de 2015, o órgão reconhece e controla o uso do tratamento
fitoterápico, ou seja, da substância extraída a partir da planta, para
crianças e adolescentes com epilepsias refratárias, que não respondem
aos tratamentos convencionais.
De acordo com o professor Jaime Hallak, da Faculdade de Medicina da
USP, além de reduzir os custos com importação, a produção em laboratório
promete garantir uma substância mais pura e completamente livre do THC,
princípio que causa o efeito psicoativo da maconha.
A expectativa do grupo é de que, depois de aprovado como medicamento, o CBD sintético chegue ao mercado em dois anos.
"A grande diferença que nós temos é que pra formulação sintética nós não precisamos ter a plantação de cannabis [sativa].
Então, de uma maneira diretamente produzida no laboratório, você
consegue a partir da estrutura molecular, com técnicas de bioquímicas e
farmacêuticas, criar molécula com a mesma eficácia, de uma maneira muito
mais barata e com uma quantidade muito maior e mais rápida do que você
faz na produção a partir dos fitoterápicos", afirma o pesquisador.
Em Ribeirão Preto, onde está em construção o primeiro centro de pesquisas em canabinoides no Brasil, também há pesquisas sobre o uso do canabidiol em patologias como mal de Parkinson.
Após uma autorização da Anvisa, a dentista Nádia Ferreira Oliveira
Marinho, de Ribeirão, começou a importar canabidiol da Inglaterra para
sua filha de sete meses, que nasceu com microcefalia e sofre de
epilepsia. O uso associado a outras medicamentos, segundo ela, tem
demonstrado resultados positivos contra as convulsões.
"Nos primeiros dias percebi que o intervalo entre uma crise e outra tinha ficado um pouco mais espaçado", conta.
Por outro lado, a mãe reconhece que a obtenção da substância, além de
cara, cotada em dólar e sem opção de parcelamento, é burocrática. Cada
frasco custa R$ 1,5 mil.
"Não posso comprar um frasco, porque o valor de importação não
compensa. A cada 20 dias é o prazo de entrega, então se eu comprar um
frasco agora e usar um frasco por mês daqui a 20 dias já tenho que estar
com outro em mãos, porque na hora que chega na metade do frasco já
tenho que ter outro."
Além da redução de custos, o canabidiol sintético desenvolvido pela USP
promete ser livre do THC. Substância que, segundo professor titular de
psiquiatria do departamento de neurociências e ciências do comportamento
da USP, Antônio Waldo Zuardi, pode estar presente no produto hoje
importado pelas famílias.
"As pessoas estão usando atualmente extratos de maconha rico em
canabidiol que são importados e isso tem um problema relativamente
grave, porque o canabidiol não é registrado como medicamento em nenhum
país nesse momento. Esses extratos que são importados são liberados dos
seus países de origem como suplemento alimentar, ou seja, não passam
pelos controles todos que são exigidos para um medicamento", diz.
Segundo Zuardi, os estudos do canabidiol na epilepsia começaram há mais
de 30 anos, mas somente foram retomados nos últimos anos, depois que
pais começaram a procurar alternativas para curar seus filhos.
O novo produto desenvolvido na USP ainda precisa ser submetido a testes
clínicos e ser aprovado pela Anvisa antes de ser classificado como um
medicamento. Ao todo, 180 crianças e adolescentes participarão da
pesquisa. "O que a gente espera é comprovar o efeito protetor do
canabidiol nas crises epilépticas e com isso preencher os requisitos
necessários para o registro do canabidiol como medicamento."
Proteção dos neurônios
Além da epilepsia, a esquizofrenia e o mal de Parkinson são as
patologias com estudos mais avançados em relação ao uso do canabidiol,
de acordo com os pesquisadores.
Segundo Hallak, a versão sintética do derivado da maconha promete agir
como um protetor dos neurônios e das funções transmissoras do cérebro.
"Vai fazer com que os neurotransmissores que estejam faltando possam
ser aumentados e aqueles que estejam aumentados sejam diminuídos. Ou
seja, tem uma ação, uma função de controlar ou de regular os sistemas
neurotransmissores dentro do cérebro."
G1



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